Com muitas informações, mas nem sempre trazendo os dados mais importantes ou clareza suficiente para o consumidor entender, rótulos e embalagens são um desafio na hora de fazer compras, sobretudo de alimentos. Informações imprecisas podem provocar situações de risco, como aconteceu com a engenheira e escritora Juliana Lessa, de 41 anos, que tem diabetes.
— Para calcular a dose de insulina a tomar, preciso saber com precisão a quantidade de açúcar e carboidratos num alimento — diz ela. — Já aconteceu de tomar a dose errada porque a porção do produto na tabela nutricional estava confusa.
Para evitar problemas como o que ocorreu com Juliana, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) quer padronizar os avisos em rótulos de alimentos ultraprocessados, como biscoitos, refeições prontas, macarrão instantâneo e refrigerantes. O projeto está em consulta pública desde maio do ano passado. O relatório preliminar traz sugestões de diversas entidades e destaca o sistema de alertas para alto teor de gordura, açúcar ou sódio, num modelo já utilizado no Chile e em estudos no Canadá e Israel.
Esse formato, com um triângulo preto num fundo branco trazendo avisos sobre alto teor dos produtos, segundo recomendação da Organização Panamericana da Saúde, foi sugerido pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e pela Universidade Federal do Paraná.
— Queremos que a embalagem traga de forma mais fácil e simples os riscos que aquele alimento pode representar — diz Ana Paula Bortoletto, nutricionista do Idec. — A abordagem da advertência dá uma compreensão clara. Quanto menos, mais saudável.
A indústria é contra esse tipo de alerta e defende usar nos rótulos imagens com semáforos coloridos (verde, vermelho e amarelo), que indiquem, pelas cores, se há baixo, médio ou alto índice desses componentes. Pela proposta da Rede Rotulagem, que reúne 22 entidades empresariais, além da indicação de cores, os rótulos apresentariam o percentual de cada componente presente no alimento em relação ao que é recomendado para consumo diário pela Organização Mundial da Saúde.
— O semáforo é um símbolo universalmente compreendido, inclusive por crianças e pessoas analfabetas — diz João Dornellas, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), que integra a Rede Rotulagem.
Já o Idec critica a inclusão de percentuais afirmando que essa recomendação não considera grupos com necessidade alimentares diferentes, como crianças, idosos e atletas, assim como diabéticos e hipertensos. Além disso, o cálculo depende da porção recomendada. A proposta do instituto estabelece que as informações nutricionais sejam padronizadas para porções de 100 gramas ou mililitros, o que também desagrada à indústria.
Outro ponto de conflito está nas cores. O Idec e a ONG ACT Promoção da Saúde avaliam que o modelo de semáforo perde destaque nas embalagens, em geral muito coloridas, e pode confundir o consumidor. A sinalização por cores seria para cada um dos componentes de risco.
— Dois verdes podem dar a ideia de que o produto é saudável, mesmo com um vermelho. E a indústria já destaca nas embalagens aspectos que considera positivos, como “baixo teor de sódio” e “rico em fibras” — avalia Paula Johns, diretora-geral da ACT.
Dornelles discorda e diz que uma pesquisa encomendada ao Ibope mostrou preferência pelo modelo de semáforo. Segundo ele, o aviso colorido seria exibido dentro de um retângulo branco, destacando-se do rótulo. A Anvisa informou que não comentaria o assunto porque a consulta pública está em andamento.
Se a apresentação dos componentes nos alimentos processados é o tema mais sensível, outras informações em rótulos e embalagens criam dúvidas nos consumidores. O prazo de validade dos perecíveis, por exemplo, se refere às embalagens fechadas e às vezes, o consumidor não repara nas observações: “depois de aberto, consumir em até...”.
Nos cosméticos, muitos não sabem que um pequeno símbolo com um número dentro indica em quanto tempo usar o produto após aberto, que pode variar de 3 a 12 meses. As etiquetas de roupas, com imagens que informam sobre como lavar e passar, nem sempre têm símbolos conhecidos da maioria dos consumidores.
A compra de remédios também exige atenção. Embalagens com a letra “G” indicam que o medicamento é genérico e evitam que o consumidor o confunda com os similares (remédios de outra marca que não a de referência, ou seja, a primeira criada para aquele tratamento).
Alimentos
Não se deixe levar por frases na embalagem, como “rico em fibras”, “integral”. Verifique a lista de ingredientes, que é organizada por ordem decrescente: o primeiro item é o presente em maior quantidade, e o último, em menor. Ao conferir a tabela nutricional, fique atento: na maioria das vezes, ela não corresponde ao conteúdo total da embalagem, mas a uma colher de sopa, uma xícara ou algumas unidades do alimento. Redobre a atenção ao comparar, pois as porções variam. Além da validade, observe o prazo para consumo após aberto.
Eletrodomésticos e portáteis
Além de informações básicas como voltagem, alguns produtos, como pranchas de cabelo, sanduicheiras e fornos elétricos, são certificados pelo Inmetro, sendo obrigatório o selo. Liquidificadores, secadores de cabelo e aspiradores de pó devem ter o Selo Ruído, de 1 a 5, sendo o último o mais barulhento. Para geladeiras, TVs, micro-ondas e ar-condicionado, verifique por consumo de energia: a letra A indica menor consumo.
Brinquedos
Observe a restrição de faixa etária: ela está relacionada a aspectos de segurança, para prevenção de riscos como sufocamento. A idade indicada para o uso, por sua vez, informa a adequação do brinquedo ao interesse e à habilidade da criança. Brinquedos nacionais e importados devem ter o selo do Inmetro.
Remédios
Além de data de fabricação e validade, observe o prazo para uso após aberto. A letra G escrita na embalagem identifica o remédio genérico. A fórmula é a mesma do original, mas na caixa só deve constar o princípio ativo. Os medicamentos similares, também com o mesmo princípio ativo do original, podem ter um nome fantasia.
Roupas
Verifique na etiqueta a composição têxtil. Os cuidados para a conservação estão representados, normalmente, por símbolos que indicam se o produto pode ser passado a ferro ou se exige lavagem a seco, por exemplo.